terça-feira, abril 18, 2006

Manual de Matemática

Sim, tens, realmente um problema.
Ir ao café sozinho é sempre uma hipótese possível e não necessariamente má.
O carro não funcionar é um aborrecimento.
Ficar sem saldo é um contratempo.
Ter de trabalhar mais uma hora ou mais um dia é uma contrariedade.
O gás ter acabado pode tornar-se uma chatice muito fria e desconfortável.
Mas essa falta que sentes é um problema. como o era o nao saberes que sentias essa falta. Problema, mas identificado. Falta de carinho, de relações, de paz, sobretudo de paz. é bom termos algumas certezas em relação ao Futuro, para não dar vontade de lhe fugir.
Tentas acabar com essa falta que sentes e não ha meio de resolver.
Pôs-se em equação as actividades desenvolvidas, a sua pertinência ou a sua qualidade de obsoletas. Pôs-se em possibilidade realizar um leque de actividades alternativas, nenhuma com capacidade de preenchimento (concluiu-se antes sequer de as pôr em prática).
Durante algum tempo optas por caminhar no escuro, às cegas, para conhecer melhor o caminho, para ver as coisas importantes, para notar os obstáculos. Mas quando pelas frinchas dos estores passam gotas de luz vêem-se, à distância de gestos então não tomados, que passavam assim despercebidas pequenas máquinas de sorrisos. Nao conseguimos calçar a luva e usar o anel.
O relógio não parou, virou-se a página ao calendário, trocou-se o calendário por um outro, igualmente de origem benemérita.

Problema identificado, mas não resolvido.
Tentativa, erro, tentativa, erro…
Acendes a luz, olhas à volta. E esperas, sem ais, que a tua vida seja como aquele manual de matemática que possuía ele próprio a solução de todos os problemas.

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