domingo, outubro 29, 2006

Bem: como gato e peixe

Ele era um gato e tinha uma fama...
Ela queria uma vida com ele.
Mas isso num gato é sempre complicado.
Em pouco tempo a vida dele é outra.
Ela queria mesmo era ser um peixinho dourado,
para nao ser rasteirada pela longevidade...

sábado, outubro 28, 2006

E tudo o resto

dos risos
das críticas
das músicas
dos filmes
das críticas
dos risos
das piadas
das conversas
dos monólogos
das críticas
dos telefonemas
dos risos
das conversas

Tenho saudades.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Faz hoje um ano IV

Um desejo de uso caseiro

Todos os electrodomésticos costumam ter dois anos de garantia pelo menos. É o mínimo. Comprei há pouco tempo um desejo electrodoméstico, que é como quem diz, um desejo de uso caseiro, que funciona a energia eléctrica.

Pois bem... o circuito em volta tem tido muito pouca energia e eu não tenho andado nada eléctrica. Penso que de vez em quando até há cortes de corrente nesta zona, pelo que o meu desejo de uso caseiro não se concretiza. Tenho em crer que estou no meu direito de ir à loja e trocá-lo por outro, Talvez um que dependa apenas de mim, sei lá... Um eólico não, que só funcionaria enquanto durasse o Outono e o chão não estivesse transformado em roupeiro de árvores. Um hidráulico iria parar assim que acabasse o pão de ló e o coelhinho da Páscoa regressasse ao país dos ovos de chocolate. Se dependesse da energia solar o meu desejo extinguir-se-ia quando o frio não me permitisse gozar o cheiro a maresia. Qualquer coisa a pilhas teria, muito embora fosse de fácil substituição, pouca duração e não me interessa tanta oscilação de energia. Acho que a melhor solução seria um desejo que trabalhasse como o meu relógio, pela pulsação. Um desejo adaptado à cadência, que a aumenta e a sonoriza com os vislumbres de realização. Um desejo bombeado ao ritmo das pressas e dos vagares, um desejo que faça o granito romper até ficar macio como o mármore da caixa de todos os sonhos que, no fim, o vai guardar cumprido.

Vou à loja, o meu desejo é urgente e eu não posso sair mal servida nesta compra.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Os meus lápis de cor

«Se eu quiser eu pinto
a noite e o vento
sete são as cores
e outras mais invento
De vez em quando as músicas infantis até ensinam qualquer coisa...

segunda-feira, outubro 16, 2006

Um dia destes dou-te uma flor. Preferência?

Tenho alguma afeição a Emilie Simon, uma francesa que passou pelo rock e pelo jazz e se rendeu à electronica. Embora tenha um carinho especial pela sua versão de La Vie en Rose, a minha música da semana é Flowers (2003), mas também adorei saber que a moça já tem álbum de 2006, Végétal. Nos entretantos, vou ouvindo esta...

FLOWERS

I want to buy you flowers
It's such a shame you're a boy
But when you are not a girl
Nobody buys you flowers

I want to buy you flowers
And now i'm standing in the shop
I must confess I wonder
If you will like my flowers

You are so sweet and I'm so alone
Oh darling please
Tell me you're the one
I'll buy you flowers
I'll buy you flowers
Like no other girl did before

You were so sweet and I was in love
Oh darling don't tell me
You found another girl
Forget the flowers
Because the flowers
Never last for ever
Never last for ever
Never last for ever
My love...


Gosto de toda a letra mas esta omnisciência do final agrada-me em particular. Ou não.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Dá uma volta, sim, mas não de 360º

Estou a precisar de tempo pleno. Já há algum tempo que ando sempre com dificuldades num qualquer assunto dos visados pelo horóscopo. Sou capaz de ter tido no último ano uma meia dúzia de dias BEM, nos outros há sempre alguma coisa a levar cartão vermelho. Bem, ao menos agora trabalho eu tenho, e cabeça ocupada costuma ajudar. O que me leva a pensar que por muito trabalho que tenha, não trabalho tempo suficiente...

terça-feira, outubro 10, 2006

Faz hoje um ano III


Mais um episódio de comida requentada, porque quem manda aqui sou eu.
Conta-me, Grimm

Não tenho, no meu rol de pares de pombos conhecidos, um único exemplo que me cause inveja. Não que não se dêem bem, apenas o bem que se dão não justifica a privação dos amigos, da conversa com os amigos, do café com os amigos, do cinema com os amigos, dos copos com os amigos e mesmo da companhia dos amigos que, por mais assexuada que seja, causa sempre algum incómodo ao parceiro oficial de actividades hormonais.

Tive uma infância normal, acho. Os meus pais discutiam como os pais dos outros. Não passaram por nenhuma crise prestes-a-divórcio, o que, se calhar, até me teria dado um toque de exotismo traduzido em popularidade junto dos colegas de escola.

Em minha casa, como na casa de alguns dos meus colegas de pais mais dados à colecção dos clássicos, havia um livro chamado Contos de Grimm. Em minha casa, como na casa de alguns dos meus colegas de pais de consciência pesada, liam-se histórias ao deitar. Em minha casa, como na casa de muitos dos meus mais iludidos colegas de pais conscienciosos, liam-se os contos de Grimm às crianças, que passo a identificar: eu.
Isto de ser filha única tem as suas desvantagens, nenhum irmão que pudesse distrair o pai a ver se ele se esquecia da hora da leitura, alguém que ficasse doente a entreter e a exigir a atenção dos papões das histórias de adormecer.

Histórias de adormecer, literalmente. A trama repetia-se, só os nomes das personagens e do local mudavam; aqui tinha uma bruxa, na outra, um mago, naquela outra, uma fada. Invariavelmente, depois de uma série de peripécias, o moço ficava com a moça, independentemente do estrato social de um e de outro, e os maus eram castigados, e eu, depois de me conter naquela odisseia de escuta, imaginava que só seria feliz (não para sempre, mas pelo menos no instante em que o fizesse) se um dia conseguisse deitar as mãos àquele livro que ficava no alto das prateleiras a rir-se de mim. Aquele livro enganador que dizia que todas as histórias eram felizes para sempre. Sempre que se lia o livro o mundo era perfeito. Nunca gostei que me mentissem.

Hoje, nos duetos que por aí vejo, torno a ler os contos de Grimm, histórias felizes para sempre, sempre que namoram: com aqueles, assim como com os anteriores, bem como com os próximos, felizes sempre até durar.
Claro que também ja tive dessas histórias felizes para s.e.m.p.r.e., histórias Se Estiver Maçado Páre e Reduza o Enfado, e, por isso, foram substituídas por outras, como essas: boas, dentro do género...

Queria tanto entrar numa história do Grimm...