sexta-feira, abril 28, 2006

Remédios do outro Mundo

Depois era toda aquela sensação de que tudo corria mal: o pneu furava (está bem que tava careca, mas também podia ser por causa de um buraco na estrada); depois o carro brecou (ainda que tenha sido por falta de gasóleo, podia muito bem ter sido por causa de uma avaria no motor); na conta restavam meia dúzia de cêntimos (sim, comprei aquelas calças e aquele casaco lindíssimo, mas se tivesse estado doente, entre o pagamento da consulta e os medicamentos tinha ficado na mesma precariedade); namorado, bem... já nem me lembro do último (único?) que tive (ok, não tenho procurado, mas também nao tenho estado escondida)...
Resumindo, a minha vida precisa de uma intervenção sobrenatural, com ou sem baralho de cartas, com ou sem bola de vidro, preciso de ir à bruxa!
Sim, vou, mas não sei por onde hei-de começar... Apresento-lhe uma lista de prioridades? Começo por falar do amor (da falta dele)? Ou do trabalho (quer dizer, eu queria mesmo era um emprego)? Claro que também era importante resolver a questão do dinheiro. Penso que nessa questão, aliás, obtemos o melhor trabalho dessas notáveis senhoras. Encomendamos a mezinha, e depois dizemos: quando, por ter feito um bom serviço, me tiver resolvido a questão, passo por cá e pago-lhe.
É que eu vim à consignação...

terça-feira, abril 25, 2006

Hey

...
Hey!
que hay veces que es mejor querer assi
que ser querido y no poder sentir
lo que siento por ti.
...
Hey!
no creas que te guardo algun rencor
es siempre mas feliz quien mas amó
y ese siempre fui yo.
...
(Não é coincidência. É, sim, uma música do tio Julio.)

O melhor das relações, creio, é que mesmo quando nem tudo corre bem, uma pessoa não se consegue arrepender de um minuto que tenha dado. E aos outros parece farsa...

quinta-feira, abril 20, 2006

Cortiça e Ouro

Toda a gente sabe que o ouro é mais valioso que a cortiça, nao querendo com isto tirar importância a este produto nacional. Mas este realmente é o ideal para representar o fatalismo português (e semelhanças com o filme baseado em Diderot não tem que ser coincidência). O português acha que tem sina para o azar, para a a desgraça (alguém falou em fado?)
O português tem de fazer um esforço titânico para conseguir encontrar as coisas boas que tem, as coisas que valem ouro, e esforço titânico, porque que por pesarem como ouro só podem estar no fundo, bem lá no fundo. Mas estão.
Assim, quando olha à volta, só vê problemas em formato-cortiça. Não é o ouro o que temos mais bem guardado? Porquê guardado e também esquecido?

terça-feira, abril 18, 2006

Manual de Matemática

Sim, tens, realmente um problema.
Ir ao café sozinho é sempre uma hipótese possível e não necessariamente má.
O carro não funcionar é um aborrecimento.
Ficar sem saldo é um contratempo.
Ter de trabalhar mais uma hora ou mais um dia é uma contrariedade.
O gás ter acabado pode tornar-se uma chatice muito fria e desconfortável.
Mas essa falta que sentes é um problema. como o era o nao saberes que sentias essa falta. Problema, mas identificado. Falta de carinho, de relações, de paz, sobretudo de paz. é bom termos algumas certezas em relação ao Futuro, para não dar vontade de lhe fugir.
Tentas acabar com essa falta que sentes e não ha meio de resolver.
Pôs-se em equação as actividades desenvolvidas, a sua pertinência ou a sua qualidade de obsoletas. Pôs-se em possibilidade realizar um leque de actividades alternativas, nenhuma com capacidade de preenchimento (concluiu-se antes sequer de as pôr em prática).
Durante algum tempo optas por caminhar no escuro, às cegas, para conhecer melhor o caminho, para ver as coisas importantes, para notar os obstáculos. Mas quando pelas frinchas dos estores passam gotas de luz vêem-se, à distância de gestos então não tomados, que passavam assim despercebidas pequenas máquinas de sorrisos. Nao conseguimos calçar a luva e usar o anel.
O relógio não parou, virou-se a página ao calendário, trocou-se o calendário por um outro, igualmente de origem benemérita.

Problema identificado, mas não resolvido.
Tentativa, erro, tentativa, erro…
Acendes a luz, olhas à volta. E esperas, sem ais, que a tua vida seja como aquele manual de matemática que possuía ele próprio a solução de todos os problemas.

quinta-feira, abril 13, 2006

Sem ais nem menos, sem mais nem ontem

...comprei a jarra
...abriu a janela
...um sinal de perigo
...disseste-me 'então?'
...saiu para a farra
...fugiu com ela
...ri-me contigo
...rangeu o portão
...meia dúzia de linhas

sem (m)ais nem menos... ou não.