terça-feira, abril 24, 2007

Diário de uma Plebeia (dia 5)

Langford - Bristol - Bath - Bristol - Langford

Hoje o dia começou aos trambolhões, cheios de sono e cheios de ouvir a chuva a bater-nos na janela. Os brits não se incomodam, não são duas pinguinhas que lhes vão estragar este Verão de Abril, e as britas continuam em caveadas e alcinhas (tsss, tsss, tsss,...)
Ganhámos coragem, saimos da cama, vestimos o exemplar de roupa quente que trouxemos e apanhámos o autocarro para Bristol. Parámos para deixar o pato atravessar a estrada - os nativos têm prioridade. Pronto, já tá, adeus bichinho! Vamos para Bristol.

Em Bristol vamo-nos dando conta de rasgos de civilização quando vemos estacionamentos de bicicletas completamente lotados. Paramos no mercado para comer uns pasteis de nata e beber um cafe. Ah pois..., aqui há uma tasquinha de comida portuguesa e as diárias até contam com um arrozinho de feijão bem malandro (ou não fosse ele português).
La foram a bela da nata e o café, expresso, pois com certeza. E nós fomos até à coach station apanhar o autocarro para Bath, a cidade dos banhos romanos, fundada em 43.
Primeira visita da terra:Bath Abbey, a última grande igreja gótica de Inglaterra, fundada em 1499, pelo Bispo Oliver King, que teve um sonho em que o mandavam arrasar a catedral normanda (de 1090), a qual ja tinha sucedido a uma igreja anglo-saxónica de 757... Enfim, A história da Igreja em Bath a meter muita água, ao estilo de uma novela mexicana. Tenham cuidado com o que sonham...
À entrada, um convite a que deixemos 3 libras para ajudar a manter a abadia bonita e arranjadinha e um mordomo muito simpatico que nos entrega uma visita guiada em papel pela Abadia, com todos os pormenores historicos, em português - um luxo. A igreja tem lugar para 1200 pessoas, sentadas. Os altares são em tecido bordados com... tecidos. A meio, o púlpito, cheio de pormenores e dourados e a sua melhor amiga, a senhora que o limpa três vezes por semana durante três horas.

À saída da abadia,a necessidade de calar o estômago. Lanchámos mesmo ali na praça: uma baguete a libra e meia e uma cola a 50 pence (podem fazer as contas, mais barato do que por Portugal, sim... - mas só fora de Londres), e como música de fundo o barbas e a sua guitarra cantavam-nos o country road e ainda nos fez uma vénia para agradecer a ajuda nos refrães.
Faltava fazer a visita principal: Bath - Banhos Romanos. Lá perdemos amor a dez libras e fomos ver a obra que os romanos, nossos primos, cá fizeram em 43. Três piscinas de água quente com tamanho suficiente para muitas braçadas ao mesmo tempo. A minha preferida foi a piscina redonda. Nada erótico na escolha: é que a piscina estava carregadinha de moedas (era a piscina dos pedidos, tipo fonte dos namorados)... e se tivermos em conta que cada moeda de duas libras sao três euros, digamos que aquela piscina apinhada era-me terapêutica até sem a água termal...
Os montinhos de tijolos aqui ao lado foram o regalo do jójó. Isto são os pilares da civilização do piso radiante. A água termal passava por ali e acima dos tijolinhos o chão estava óptimo para se andar descalço depois dos mergulhos.... (uns visionários estes romanos, nós sabemos.)
A volta foi atribulada. começou a chover. O autocarro atrasou-se um bocadinho e o nosso outro autocarro (último, sublinhe-se) quase, quase a sair. Conseguimos entrar, mas não sem antes ouvirmos um raspanete de todo o tamanho sobre entrar em autocarros em movimento (se fosse um avião morríamos!!) e além disso o sr. motorista também já estava «muito atrasado, três minutos atrasado»!
Descobrimos que em Portugal nem tudo é mau e até sabemos para onde vão os autocarros quando são demasiado velhos para as nossas estradas (qualquer desfocagem tem a ver não com a máquina, mas com o facto de o referido meio de tranporte abanar por todos os lados).
Chegámos a casa, jantámos, fomos ao pub (hoje fechou tarde - às onze) e cama.
Amanhã é outro dia.

segunda-feira, abril 23, 2007

Diário de uma Plebeia (dia 4)

Langford (unidade de estudo de agro-pecuária, dentro e fora)


Hoje o dia começou mais tarde. Nao tivemos tempo de dizer bom dia a ninguém. Quando decidimos sair da cama já todos os Ben's da terra tinham rodado os braços uma quantidade de vezes. Tempo de fazer o almoço. A trabalhadora cá do sítio e nossa mui honrada hospedeira chegava depois da uma para almoçar. Pus-me de serviço à cozinha. Hoje a comida continua a ser portuguesa. Até sopinha há.

Depois do almoço decidimos usufruir da hospitalidade da unidade e aproveitar as bicicletas que têm à disposição para conhecer as redondezas. Planícies muito grandes, muito verdes, com muitas vacas de todas as cores, com muitas ovelhas (estas são brancas também), muitos coelhos, muitos corvos, muitas casas muito tipicamente inglesas e... country.
Atenção!! pela esquerda, pela esquerda... E quando achamos que o cérebro já se habituou eis que a donzela se atravessa no cruzamento pela direita com um carro de frente! «Ó senhor, tenha calma, que eu sou estrangeira!»

Voltamos ao campus.
Passámos de bicicleta pelo corredor dos animais e aproveitámos para dar palha e festinhas aos cavalos (aos simpáticos, que alguns estavam armados em cavalos de corrida...). E dar duas de treta com os porcos, quer dizer, leitões... Consegui pô-los todos a conversar comigo, eles também já devem estar fartos deste dialêto estrangeiro. Saudades da bairrada com certeza...

Bicicletas de volta à gaveta, voltámos à cozinha, cansados por um dia passado totalmente em green acres. Ao jantar,vinho italiano a regar a conversa. Isto de estar num campus multicultural tem as suas vantagens....

Amanhã é outro dia.
(Este relato está a ser completado em homenagem aos fellow-travelers. Há coisas que não podem deixar de se recordar. E mais vale tarde que nunca.)

domingo, abril 22, 2007

Diário de uma Plebeia (dia 3)

hotel - centro - Bristol - Langford

Depois dos banhos, o pequeno-almoço, com direito a bacon, ovos, salsichas, feijao, tostas, cereais, compotas... Cereais tá de bom tamanho para nós que temos o estômago sensivel, mas hoje decidi arriscar no ovo estrelado também.
Hoje é dia da maratona de Londres. Embora ainda tenhamos de olhar para o mapa antes de pedir licença aos pés para andar, a coisa começa a rolar. Evitámos os autocarros e fomos feitos toupeiras até ao Palácio de Buckingham onde a union jack avisa que a rainha tá lá hoje... Também, hoje é dia da maratona...
Deu para ver que aquilo dos guardas é mito. Ou então estava a ser literalmente «chato» o guarda real ficar quieto...

Mais um passeio pelo parque e rumamos ao Tate Modern Gallery para dar uma de cultidão. No meio de muita arte mal compreendida por estes que leigos se confessam lá encontramos algumas peças que nos obrigam a reconhecer que isto de fazer arte não é para qualquer artista...

Mesmo ao lado, o Shakespeare Globe Theatre, e hoje era o aniversário do senhor. Bilhetes à borla para conhecer o sítio. Visita guiada e espectáculo incluído. E, surpresa das surpresas, até fui actriz por um dia. Retirada do público vesti num minuto a pele da freira Elizabeth, por quem o padre de serviço estava apaixonado. Momento único para mais tarde recordar. Há coisas que nem combinadas corriam melhor.

Do resto do dia nao há codaques a certificar. Corrida a recolher as malas do hotel. Corrida muito sofrida para chegar a victoria coach station onde o bilhete de autocarro para Bristol já estava comprado. Duas horas e meia de autocarro-sauna para Bristol. Mais três quartos de hora de autocarro e taxi de Bristol para Langford, uma unidade de estudo de agro-pecuária perdida no meio do countryside. Jantar (comida que lhe mereça o nome finalmente), cavaqueira, bolo de chocolate (um convite para provar que resulta na devoração quase ate à ultima migalha do doce), o primeiro café-café desde que chegámos à terra deste dialêto americano, e cama.

Amanhã é outro dia.

sábado, abril 21, 2007

Diário de uma Plebeia (dia 2)

hotel - centro - hotel - ... hotel

O dia começou com a aquisição do bilhete para os tais autocarros em que se apanha vento na montra, trocámos o tubo pelo sol e descobrimos que na terra dos brits qualquer motivo é legítimo para manifestação, seja para pedir mais chocolate no cafe, que o pagamento de impostos nao seja hereditário, ou até para reivindicar que o Ben se passe a chamar Charlie.

A viagem no bus é alternada com um cruzeiro no Tamisola. Uma viagem embalada no rio que tem marés para apreciar as vistas para os principais pontos turísticos e tomar consciencia que o novo e o velho em Londres se combinam de uma forma que nos faz pensar que alguns prédios na lusa terra caíram de paraquedas nas zonas históricas.
Aqui, o sightseeing é delicioso. Até os bichinhos gostam.

Algumas badaladas impõem-nos mais respeito que as do Ben. O estômago dá horas nos arredores da Torre de Londres e é mesmo ali ao lado da fortaleza que decidimos petiscar um dos pratos da terra. Chicken and Chips servido por uma senhora espanhola que praticamente nos implorou que falassemos em português por estar saturada desta maneira «esquisita» de falar. Ali almoçamos enquanto o toldo para protecção das obras na torre anunciava que estavam «giving the palaces the care they deserve». Manias... Acertamos em cheio com a visita à torre. Preparadinhos ao lado estavam os canhões para 62 salvas de palmas para o aniversário da rainha. A lisa faz anos. Felicidades para a lisa. BUM!

Ao fim de dois dias em Londres já nao é qualquer veículo motorizado que nos chama a atenção. Vemos três porches (carrera + carrera + carrera gt) a arrancar dos semáforos ao mesmo tempo e até já nos parece normal, mas ainda não tínhamos à vontade suficiente para fazer de conta que uma limusine hummer era uma coisa banal.... É muito triste ser pobre. E eles teimam em lembrar-nos disso.

Estas maratonas fazem-nos lembrar de que somos humanos e que a nossa preparação física não está lá aquela coisa. Vemos o Hyde Park e agradecemos a deus os bifes serem tão dados a parques e a dias passados nos parques, e a piqueniques nos parques e jogos de futebol, e basebol, nos parques, e até bronze nos parques. Entramos em período económico por uns minutos e quando o frio veio planeámos ir a casa descansar um bocadinho e comer qualquer coisa para depois voltar ao centro e curtir a noite...
A intenção era boa.

Amanhã é outro dia.

sexta-feira, abril 20, 2007

Diário de uma Plebeia (dia 1)

Stansted - metro - «hotel» - centro - «hotel»

Com os pés ainda dentro do aeroporto, já em solo estrangeiro, a compra dos bilhetes mais apropriados para chegar ao destino é a primeira luta. Tudo quanto é brochura vai parar à mala e a viagem pouco a pouco transforma-se num circuito de transporte e acumulação de pesos. Mapa do metro feito num oito, quase decoramos as estaçoes do tubo antes de passarmos sequer por elas e demoramos uma hora a encontrar o hotel embora estivesse mesmo ali ao lado... Um casarão lindo por fora e velho por dentro, com uma senhora certamente da familia Adams, mas que primava pela simpatia. E o sítio era pobre, mas aconchegado. Jeitosito.
Instalados, aproveitámos o sol para encetarmos a conquista ao centro de londres.

Autocarros de dois andares, taxis de todas as cores de uma marca que só pode ser a marca «taxis de londres», casas-em-linha multiplicadas ao infinito em contornos sobretudo victorianos, e ao fundo o grande Ben... Outras das atrações da terra são os ferraris, os maserattis, os mustangs, as limusines e outros topos de gama que se clonam como se saissem nos corn flakes, a ponto de até a policia de passear em bmw. O pessoal por aqui trata-se bem.

Mais umas voltinhas a pé pela praça Trafalgar, as Câmaras do Parlamento, o olho de Londres e o rio Tamisola.... e o frio. Altura de recolher. Jantar, só no Mac. Único estabelecimento aberto às 22h.

Na viagem para «casa» deu para ver mais uma das características não ditas dos londrinos. Parece que desde os ataques bombistas eles têm medo de caixotes do lixo espalhados. Como resultado, ao final do dia, a cidade transforma-se numa confusão de jormais desmembrados e pacotes vazios... um esforço deles para que nos sentíssemos em casa, talvez...

Amanhã é outro dia.

segunda-feira, abril 09, 2007

Brainstorming

àqueles que, com o tempo, se mostraram tao amigos assim
(para f.)
Sim, claro que vou. Nada me faz deixar de ir. Gosto muito de ti. De vos. Sei que é recíproco. Que tambem gostam de me ter por perto. Não podia deixar de estar com quem tem tanta consideração por mim. O ouro é de se manter e vocês são, no momento, uma grande fortuna. Garimpeira de sorte que eu sou. Gosto de voces até quando falam de mim. Sei que é por me desejarem o melhor. E sempre que precisem de mim, eu estou aqui.

sexta-feira, abril 06, 2007

Afiar os dentes

Dizem que se deve ir ao dentista uma vez por ano. Diz-se o mesmo de outras variedades da medicina. O que é facto é que eu posso ver mal e ter uns olhos bonitos, mas com os dentes a coisa pia mais fino. Os dentes influenciam no aspecto geral de cada um e até (peço desculpa se a imagem for pouco apelativa) no cheiro de cada um. Eu gosto de apreciar dentes. E sorrisos. Não sou um exemplo no que diz respeito às visitas ao tal estomatologista, mas tenho sorte. Tenho a boca cheia de dentes, mais ou menos bem alinhados, que nunca me deram problemas de maior. Não sei o que é uma dor de dentes (assim fosse com as de cotovelo).

Dizem que a saúde é uma grande riqueza e estúpidos seríamos se não concordássemos. Os dentes também são uma riqueza. Até marfim têm. E o marfim sempre foi objecto de cobiça. Claro que ninguém olha de inveja para a boca mais preenchida de outrém a pensar «Aquele é que tem marfim!... eu não tenho quase marfim nenhum...», mas é cobiça.

Época houve em que o comércio do marfim estava em voga, era mais uma maneira de usufruir das riquezas tribais. Ontem fizeram-me pensar nisso mais a fundo, em A Frente do Progresso, do polaco Joseph Conrad, uma espécie de Apocalipse Now trazida para o palco do Teatro Carlos Alberto. Um entreposto comercial plantado ao sol no meio de mosquitos e de uma tribo enganada pelo tempo. O objectivo: conseguir marfim. O marfim era conseguido através de justíssimas trocas directas com os indígenas, justíssimas porque é justo que o marfim seja entregue a quem o quer. E era. Marfim, mais de gente do que de animais, entregue mais a animais do que a gente.

segunda-feira, abril 02, 2007

Optimismos

Acredito que o mau maior defeito e a minha maior qualidade são um só: o optimismo.
Prefiro ser sempre optimista. Não tenho um motivo racional para isso. Mas acho que devo sempre acreditar, devo esperar, devo empenhar-me ao máximo, devo ser a pessoa mais activa no meu projecto de vida em qualquer frente. E acabo por exigir dos meus amigos o mesmo, ou pelo menos impelir a isso todos aqueles a quem muito desejo. Isso nao garante que as coisas cheguem a bom porto, é certo, mas acredito que é assim que deve ser.
Encontrei numa série televisiva alguém que expressa isto de uma maneira muito minha:

«I believe in the good (...) I believe in a lot of things. (...)
I believe that if I eat a tup of butter and noone sees me, calories don't count. (...)
I believe we will survive,
I believe that believing we survive is what makes us survive.»

Grey's Anatomy, Season 3, Episode 16 (Izzie)