Dizem que se deve ir ao dentista uma vez por ano. Diz-se o mesmo de outras variedades da medicina. O que é facto é que eu posso ver mal e ter uns olhos bonitos, mas com os dentes a coisa pia mais fino. Os dentes influenciam no aspecto geral de cada um e até (peço desculpa se a imagem for pouco apelativa) no cheiro de cada um. Eu gosto de apreciar dentes. E sorrisos. Não sou um exemplo no que diz respeito às visitas ao tal estomatologista, mas tenho sorte. Tenho a boca cheia de dentes, mais ou menos bem alinhados, que nunca me deram problemas de maior. Não sei o que é uma dor de dentes (assim fosse com as de cotovelo).
Dizem que a saúde é uma grande riqueza e estúpidos seríamos se não concordássemos. Os dentes também são uma riqueza. Até marfim têm. E o marfim sempre foi objecto de cobiça. Claro que ninguém olha de inveja para a boca mais preenchida de outrém a pensar «Aquele é que tem marfim!... eu não tenho quase marfim nenhum...», mas é cobiça.
Época houve em que o comércio do marfim estava em voga, era mais uma maneira de usufruir das riquezas tribais. Ontem fizeram-me pensar nisso mais a fundo, em A Frente do Progresso, do polaco Joseph Conrad, uma espécie de Apocalipse Now trazida para o palco do Teatro Carlos Alberto. Um entreposto comercial plantado ao sol no meio de mosquitos e de uma tribo enganada pelo tempo. O objectivo: conseguir marfim. O marfim era conseguido através de justíssimas trocas directas com os indígenas, justíssimas porque é justo que o marfim seja entregue a quem o quer. E era. Marfim, mais de gente do que de animais, entregue mais a animais do que a gente.
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